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Foto do escritorCanal Sonho Grande

Por que a corrupção não é o maior problema do Brasil

Atualizado: 30 de mai.

Na década de 80, o PIB brasileiro cresceu apenas 1,7% ao ano. A esse período - damos o nome de década perdida. Após isso, com diversas mudanças estruturais e de governo, o Brasil finalmente parecia que iria deslanchar - a inflação foi derrotada e milhões saíram da pobreza.


No entanto, entre 2010 e 2020 não teremos crescido absolutamente nada. Nosso PIB na verdade terá diminuído nos últimos 10 anos.


Não bastasse o fracasso na economia, não evoluímos na educação, saneamento e não tivemos avanços significativos em diversas outras responsabilidades chave do governo, como saúde e segurança.


Para muitos, a principal causa dos nossos problemas é clara: A CORRUPÇÃO


A lógica é simples: Em uma sociedade pobre e corrupta, se criarmos e aplicarmos boas leis que combatam a corrupção, teremos um ambiente propício para crescermos.


Recentemente, elegemos um presidente justamente com essa bandeira. Vladimir Putin na Russia e Hugo Chavez na Venezuela também chegaram ao poder com a mesma promessa de erradicar a corrupção.


Nesse post falamos por que, embora faça sentido no papel, a corrupção não é o entrave para o nosso desenvolvimento. O pensamento convencional entre corrupção e desenvolvimento está completamente errado e nos mantém presos a ações e discussões inúteis.



Desenvolvimento é consequência da redução da corrupção?


Todos anos, governos do mundo todo gastam bilhões em reformas e programas anti-corrupção que fracassam totalmente.


Quando olhamos os dados, países não se desenvolveram porque conseguiram reduzir a corrupção. A equação está ao contrário.


Embora pareça contra-intuitivo, países conseguem diminuir a corrupção justamente porque se desenvolveram. E é inovação e aumento de produtividade que de fato geram desenvolvimento.


Um grande exemplo disso é o setor de telefonia na África. No fim da década de 90, pouquíssima pessoas tinham acesso a linhas de telefones celulares, que eram geridas por empresas estatais.


A escassez de telefones alimentava a corrupção generalizada no setor - funcionários públicos cobravam propinas de pessoas que gostariam de ter acesso a um celular. Como muitas pessoas não tinham dinheiro para comprar os celulares caros da época, muito menos pagar os subornos, essa era uma tecnologia disponível somente aos ricos.


Até que Mo Ibrahim decidiu abrir a Celtel, uma empresa de telecomunicações na África sub-sahariana que pela primeira vez ofereceu serviços de telefonia a baixo custo para milhões de africanos, mesmo nos países mais pobres da região, como Congo, Malawi, Serra Leoa e Uganda.


Celulares deixaram de ser uma tecnologia cara e passaram a ser acessíveis a grande parte da população. Como consumidores não precisaram mais pagar propinas, a corrupção no setor foi altamente diminuída. Não porque as instituições ou leis ficaram mais fortes. Mas porque a inovação trouxe desenvolvimento. Se Mo Ibrahim tivesse esperado a diminuição da corrupção para iniciar a Celtel, ele estaria aguardando até hoje.


Para explicarmos melhor o porquê disto, primeiro precisamos entender o mecanismo de surgimento da corrupção. Uma vez que entendermos por que as pessoas recorrem à corrupção, começaremos a perceber diferentes abordagens para resolver o problema.


Corrupção não é o problema. É uma solução.


Pessoas que praticam atos corruptos, sabem que isso não é certo. Mas por que elas ainda assim o fazem, mesmo com a existência de leis rígidas?


Antes de tudo, a corrupção é uma solução encontrada para a escassez. Sempre que alguém puder receber algum benefício por ter acesso a algo escasso, isso torna a corrupção atrativa. Ou seja, a corrupção costuma ser uma saída, uma escolha conveniente em lugares onde há poucas opções melhores e que acontece especialmente em 2 casos:


  1. A grande maioria das pessoas quer progredir. Desde o rico, até o pobre. Quando a sociedade oferece poucas opções legítimas para o progresso, a corrupção é atrativa. Um político médio Brasileiro por exemplo teria poucas chances de acumular riquezas no setor privado.

  2. Todo indivíduo, assim como uma empresa, tem uma estrutura de custos. Quando a estrutura de custos de uma pessoa é desbalanceada, ela tem grandes incentivos a praticar atos de corrupção. Fala-se muito de policiais que cobram propinas de civis ou até mesmo que protegem zonas dominadas pelo tráfico em troca de dinheiro. No entanto, esquecemos que normalmente esses policiais são extremamente mal pagos. Salários baixos que impossibilitam se manter uma família com mínimas condições, sempre farão com que parte dos policiais cogitem atos como a exigência de subornos.


O nosso problema é que em países pobres, como o Brasil, muitas coisas são escassas - o ambiente perfeito para a proliferação da corrupção. Nada disso torna a corrupção aceitável mas explica porque a corrupção na verdade é a solução que muitas pessoas encontram para resolver os problemas de escassez da nossa sociedade.


Não importa o quão rígidas sejam as leis. Embora ajude a conter a corrupção, essas são ações que não atacam de fato a causa-raiz do problema.


O que devemos fazer?


Se a corrupção é o produto da escassez da sociedade, a melhor maneira de reduzi-la é justamente criando alternativas à população - especialmente investindo em negócios que tornam produtos e serviços mais baratos e acessíveis a muito mais pessoas.


Isso é o que realmente ataca diretamente a escassez, além de gerar receita ao governo através de impostos para aí sim reinvestir na economia e no fortalecimento de instituições que poderão promover maior transparência. Conseguir gerar um ambiente propício ao surgimento de inovações desse tipo é realmente revolucionário.


Tomemos a Coréia do Sul como exemplo. Em 1950, a Coreia era um país extremamente pobre e corrupto. Mesmo nos anos 80, a Coreia do Sul ainda tinha um PIB per capita equivalente ao Brasileiro e as suas instituições estavam entre as mais corruptas do planeta.


No entanto, a medida que empresas como a Samsung, Hyundai e Kia e investiram em inovações que tornaram produtos e serviços mais acessíveis à população, finalmente o país deslanchou.


Hoje o PIB per capita da Coreia do Sul é 3,5x maior que o Brasileiro. Conforme o país se tornou mais próspero, a Coreia pôde reinvestir e fortalecer as suas instituições.

A mesma história se repetiu em diversos outros exemplos, como o próprio Estados Unidos que há muitos anos eram tão corrupto quanto os países mais pobres do mundo hoje. Países reduzem a corrupção a medida que se tornam mais prósperos. Não antes.


Outro exemplo de vitória sobre a corrupção está no mercado da música. No início dos anos 2000, grande parte da população baixava e compartilhava músicas piratas, mesmo sabendo que isso era ilegal.


Por anos, as gravadoras lutaram e gastaram milhões para que fossem criadas leis cada vez mais duras a fim de combater a pirataria. No entanto, tudo isso foi completamente inútil visto a falta de opções melhores. Foi somente com o surgimento do streaming e de serviços digitais para compra de músicas, como o iTunes, que a pirataria foi finalmente vencida.


Por fim, não estamos dizendo que a corrupção deva ser ignorada. Podemos prender políticos e punir servidores públicos mas até entendermos o porquê de as pessoas praticarem atos de corrupção, continuaremos a gastar recursos em uma luta sem fim. Leis rígidas são importantes, mas a capacidade de executá-las e, principalmente, de gerarmos inovações que promovam produtos, serviços e oportunidades a população são muito mais.


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